‘Fale Mais Sobre Isso’, o Ato de Falar.

Aqueles que já passaram pela experiência da análise, provavelmente já ouviram essa frase. Pode parecer algo simples à primeira vista, mas expressar-se verbalmente, por si só, já não é uma tarefa fácil para determinados assuntos, quanto mais, falar ‘mais’ sobre isso. Não é um movimento comum e, muitas vezes, não há espaço para falar sobre questões essas que seriam abordadas em uma análise, sejam por motivos diversos, não estar à vontade, não encontrar uma abertura, ou, não saber falar. Seja também, pela dinâmica das relações, do cotidiano, da correria do dia a dia, não há tempo para olhar para dentro e muito menos falar sobre isso.

Crescemos em uma sociedade em que não há o encorajamento para compartilhar seus próprios incômodos. Pelo contrário, somos ensinados que devemos ser gratos por aquilo que se tem e positivos em relação ao que está por vir. Deixando de lado todo o restante que também nos define, a subjetividade de cada um. Aprendemos que devemos ser sucintos, diretos, saber o que quer, já que não há tempo. E não há tempo principalmente para sofrer, reclamar, se queixar, ter dúvidas. Portanto, se deparar com esta frase causa um estranhamento, não é algo que estamos acostumados.

Há muitas outras questões por trás dessa dificuldade, porém o que quero dizer é que o ato de falar é um exercício aprendido, e o espaço de uma análise é projetada para isso, poder falar inclusive, sobre aquilo que não se sabe. Resgatar aquilo que antes não teve seu espaço para ser elaborado, sem a censura do que aprendeu a como deve ser. Em análise há o encorajamento a buscar compreender questões essas que não tiveram sua elaboração, um incentivo a ter tempo para falar sobre isso.